Sophia estava deitada com as pernas para o alto balançando-as freneticamente, enquanto levantava hipóteses sobre a ligação de Pedro, não conseguia entender como ele havia tido coragem para ligar, se ela fosse ele, com certeza não teria ligado. Mas nem havia tanto problema assim, já que ele havia pedido um conselho, certo? Talvez, calculava Sophia.
O celular começou a tocar tirando Sophia de seu mar de dúvidas, era Jú, como ela havia se esquecido de ligar para a Júlia? Estava agora brava com si mesma.
– Oi, Jú!
– Ei, moça. Você está bem? – Perguntou Jú.
– Uhun, estou bem, intrigada, mas bem. E você?
– Estou levando e por que você está intrigada?
– Você nem imagina quem acabou de ligar pra mim. – Sophia disse deixando Jú curiosa.
– Quem?
– O Pedro!
– Como? Por que? – Jú abandonou seu tom de voz curioso dando lugar a raiva.
– Como eu não sei, o pouco que eu sei é que ele está internado em um hospital e por falar nisso, ele está paraplégico… – Ouve uma pausa na linha, um peso de pena, até que Sophia voltou a falar. – Mas, então, eu fiquei tão surpresa com a ligação que não consegui perguntar muitas coisas, embora agora essas perguntas estejam furando o meu crânio.
– Entendo perfeitamente. O que ele queria?
– Queria um conselho.
– Ele te ligou para pedir um conselho? Quem liga para uma pessoa pedindo conselho depois de tentar matá-la? É um imenso absurdo, você não acho? – Jú indignada.
– É, eu acho um absurdo, mas não é tão ruim, melhor do que se ele estivesse me ameaçando de novo… E dar um conselho não mata, né?
– Literalmente espero que não.
Sophia sorriu.
– Também espero.
– Ele queria conselho sobre o que? – Júlia deixou sua raiva de lado, optando pelo caminho da curiosidade.
– Oh, Pandora! Agorinha estava brava, agora já está curiosa! – Estrela disse rindo.
– Pandora? Eu não sou curiosa como ela, acho que você é muito mais! – Jú parou para rir. – Para de me enrolar e responde!
– Okay. Bom, ele queria saber se deveria dizer a verdade sobre o que aconteceu, ele disse que tinha um advogado na frente dele e que esse cara queria inventar um desculpa sobre os acontecidos… E eu disse que ele deveria dizer a verdade, é o melhor para seguir em frente.
– Dizer a verdade… – Jú repetiu, pensativa. – Estou com muita, muita, muita raiva dele, tipo no nível 10.
– Deixa eu ver, esta é a sua verdade? – Perguntou Estrela.
– Exato, e eu passei a metade da noite odiando o que ele fez, tendo mais raiva dele a cada segundo.
– Você sabe que não pode ter raiva, né? Tem que entregar nas mãos de Deus e deixar que Ele leve essa dor de você. – Estrela disse calmamente, com amor e paciência.
– Eu sei, mas ainda não dá para assimilar as coisas, preciso de mais tempo…
– Só não perca tanto tempo fazendo isso, promete?
– Prometo. E você está com raiva?
– Raiva? Não, mas estou curiosa, de fato. Preciso saber de alguma forma o porque disso tudo, tenho que saber a versão dele…
– E você vai dar um jeito para descobrir isso?
– Vou sim.
– Estranho.
– O que?
– Você deveria estar triste e desolada com isso.
– Quem disse que eu não estou? Eu gostei daquele cara, Jú, abandonei tudo o que eu era por ele, me perdi e pequei, mas graças à Deus consegui me recompor, mas dói sabe, dói saber o que ele fez, e mais ainda o que poderia ter sido de mim se tivesse ao lado dele. Eu não gosto dele como gostava antes, mas ele é uma parte do meu passado, uma parte da minha história e estou triste pelo que ele fez e pelo o que ele teve como resposta aos seus atos.
Houve uma longa pausa na linha, enquanto uma lágrima rolava pela face de Sophia.
– Entendo, e você ainda pensa em querer saber a história toda?
– Eu não posso seguir em frente tendo como único pensamento que o garoto por quem eu me apaixonei era um monstro, todos possuem um segunda chance e quero ver se ele está disposto pela dele. Você lutou por mim, mamãe e papai lutaram por mim, alguma coisa aqui dentro está me dizendo que devo lutar mesmo que um pouquinho por ele, sabe?
– A Estrela que eu conheci pequenininha está voltando. Só não se fere no meio disso tudo, tá? Toma cuidado.
– Pode deixar.
– Tenho que ir agora. Beijinhos, fica com Deus e muito juízo, hein menina!?
– Isso é o que eu mais tenho. Fica com Ele também, beijos.
Sophia continuou deitada, mergulhando eu seu mundo, queria soluções, queria escrever, queria muitas coisas ao mesmo tempo, só não queria levantar para fazer. Ela se virou ouvindo uma batida na porta, seguindo de uma de suas vozes preferidas.
– Querida, posso entrar? – Perguntou Ana.
– Claro que sim, mamãe.
Ana disse sorrindo, entrou e se jogou sobre a cama, agarrando a filha em um abraço de urso.
– Você está bem?
– Cheia de pensamentos e com um pedido um pouquinho diferente.
– Cheia de pensamentos é normal, mas um pedido diferente? O que exatamente?
– Deixe eu te contar um acontecimento recente primeiro.
Sophia contou a mãe sobre a ligação de Pedro, sobre a sua curiosidade sobre tudo o que aconteceu e sobre querer respostas dele. Disse do seu desejo de ajudá-lo, deixando a mãe curiosa e preocupada.
– Eu sei que agora sim você está voltando a ser a Sophia de antes, que se preocupa ao extremo com as pessoas, que deseja ajudar e se auto ajuda muito rápido, estou vendo que a sua vontade de fazer perguntas está aumentando e que em breve verei você escrever muito.
– Verá eu escrever muito? Eu nunca parei de escrever.
– Escrever apenas no seu diário não vale, cadê seus manuscritos? Suas histórias, seus textos? É disso que estou falando, mas enfim…
– Ei, espera, Anne Frank ficou conhecida pelo seu brilhante diário!
– E eu posso publicar seu diário? Ele também é brilhante? – Ana disse sorrindo.
– Não, não pode, porque ele não é tão brilhante assim.
– Então trate de voltar a escrever mocinha, preciso publicar você.
– Eu vou voltar.
– Mas, enfim, sem que você me interrompa novamente, eu não sei se é uma boa você ir conversar com o Pedro, primeiro ele tentou matar você, pode estar arrependido, mas ainda sim não deixa de ser perigoso. Sabe, meu lado mãe racional não permite uma coisa dessas?
– Mãe, e o seu lado escritora? Você é uma jornalista curiosa e vive das respostas que consegue para as suas perguntas, a senhorita precisa de histórias para viver, eu sei disso. E eu também preciso das minhas respostas.
– Você precisa logo dessas? Nós podíamos tirar uns dias de folga e você encontraria muitas respostas interessantes em cidades históricas? Que tal Petrópolis ou Ouro Preto? Você ama história, coisas antigas e tudo mais, poderia fazer muitas perguntas e ter muitas respostas.
– Eu gostaria muito disso, muito mesmo e não vou deixar essa sugestão se apagar da minha memória, mas primeiro eu preciso ouvir as respostas do Pedro.
– Sophia…
Ana não deu uma resposta imediata a Sophia, primeiro teria que conversar com Gustavo e juntos chegar a uma conclusão, e depois ver com a advogada deles se isso seria possível, o desejo de Sophia não deveria ser comum, não nessas circunstâncias, mas a moça nunca havia sido comum, assim como Ana sabia que jovens escritores são cheios de perguntas.
Você teria a coragem de Sophia? Talvez sim, talvez não. Ela não estava apenas sendo motivada por suas perguntas, por sua curiosidade, dentro dela havia uma chama dizendo que Pedro iria mudar e ela queria ajudar. Não era uma obrigação dela, mas ela estava disposta a ajudar na missão.
Em algumas análises Pedro seria considerado um inimigo, pelos desejos humanos deveria ser banido, rejeitado, odiado, mas por um filho de Deus deve ser respeitado, querido e amado. Jesus disse que não se deve odiar o inimigo, pelo contrário, deve-se amá-lo, deve-se interceder pela vida dele (Mateus 5:43). É tão fácil para Sophia amar Júlia, amar os pais, amar a Tiago, mas será que é tão fácil assim amar as antigas amigas, Carol, Paula e Bella? É fácil olhar para Pedro e não sentir ódio, depois de tudo o que ele fez?
Te garanto que não é nada fácil, e na mente de Sophia há um desejo de odiá-los e nunca mais olhar para eles, mas ela sabe que deve perdoá-los, que deve orar, ela aprendeu que ser uma princesa, ser filha do Rei significa perdoar e amar aqueles que se podem ver, para que assim se possa amar Aquele que não vos é visível aos olhos.
O culto realmente foi maravilhoso, mesmo a mente de Sophia querendo arrastá-la para pensamentos da noite anterior, e desejando pela resposta de sua mãe ao pedido que ela fez, conseguiu se desligar de tudo e agradecer a Deus a cada segundo daquela noite.
Myllena Ferreira
Ai meu Deus, sempre acaba na melhor parte, kk *–*
Jhadi Felix
Ansiocissima para o próximo capítulo,
Está cada vez melhor.
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